Poesias que você ñ aprende na escola II

Ola a todos!!
Estou de volta a essas terras para vos trazer mais duas poesias de Carlos Drummond de Andrade, com o mesmo tema “picante”.....
Espero que gostem....




Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.
Já sei a eternidade: é puro orgasmo.

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.
Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.
Adorando.
Nunca pensei ter entre as coxas um deus.



A bunda que engraçada

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
rebunda.

Comentários

  1. e Novamenente Drumond me surprendendo

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  2. Eu confesso,

    qdo comecei a ler o 2º poema, fiquei meio besta e ñ lembro mais nd do 1º poema

    pq será? instinto masculino?

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  3. Ambos São dois dos melhores poemas em alguns generos de Dumond:

    O primeiro mostra como é a sensação masculina no sexo oral de um jeito que poucos escritores tem coragem de escrever, mostrando toda a sensação desde o carinho, ao egoismo do proprio orgasmo masculino, esquecendo-se de seus arredores. Mostra a admiriação pelo ato de doação feminino e profundo agradecimento do mesmo. É interessante de se pensar em como se sentiria uma mulher ao receber um poema desses após o ato em si, constrangida ou feliz?

    Agora o segundo é uma ironia com os fetiches que povoam a mente masculina, enfatizando como um homem que ja não seja mais virgem, na grande maioria das vezes, possui a bunda como objeto de prazer ao inves dos seios, ja que o homem se excita com o visual e a mulher com a sensação.

    Posso parecer um pouco Cammões demais mas é bom tentar sentir o que Drmunond sentia ao escrever o mesmo, pois assim pode se comparar com o que sente o leitor e ajuda a se conhecer melhor como homem viril que é.

    (ficou bonito né? eheheh)

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  4. Tinha que ser um Bardao para descrever desta maneira...

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  5. Nossa demorei pra ler o post que nem da pra comentar algo.
    O Bardo ja falou tudo XP

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