[Casos e Acasos] Assassinato

Casos e acasos

 A seção nasceu das crônicas, devaneios (e de vez em quando, algumas verborragias e filosofias de mesa de bar) que são publicadas no Meio Bossa Nova e Rock 'n Roll. Descobri que gostava de escrever contos e crônicas, deixei a ânsia de apenas escrever sem dar sentido às palavras. Passei a olhar pessoas na rua e descobrir em cada expressão, um personagem. Fui me apropriando de rostos para criar histórias, e de histórias para imaginar vidas.

Assassinato

Ainda sentirei o amargo da sua boca na minha, amanhã. Me lembrarei do seu corpo neste lençol e, por um minuto, vou sentir saudade. A tampa da privada ainda atesta seu relaxo. Cada folha do calendário é lembrança sua, que dança nas minhas lágrimas e contorna o sorriso na minha boca. O lusco-fusco da lâmpada quase queimada reflete meu rosto deformado no espelho – olheiras de noites não dormidas, olhos de quem já morreu, apesar de ainda respirar.
Sem gás pra fazer comida. A estante, sem bebidas. Todos os maços de cigarro já foram consumidos. As paredes fedem a álcool barato. As calças quatro números maiores que as minhas ainda estão no guarda-roupa. O celular está desligado. O violão sente falta de seu dono. Chutava uma nova vida, na barriga. Morto. Sono. Mofo.
Ainda há uma camisa branca, manchada de batom de puta. A tempestade da tarde é da cor dos olhos revirados, castanhos... Eu rio, altiva, grave, efêmera, rouca. Louca. Paredes imaculadamente brancas, tingidas de vermelho. Sete dias, e você ainda se esvai em sangue! Eu já sangrei também. Por dentro. No ventre. No Eu obtuso. Confuso...
Ah, coitado de ti. Coitada de mim.

Por Samia Pereira

Nota: A Crônica e a introdução foi feita pela Samia e postada por mim, pelo fato de ela não está credenciada ainda no Blog, mas futuramente os posts serão adicionado por ela. Originalmente a Coluna Casos e Acasos pertence a ela