[Casos e Acasos] “Ora, pensar é uma coisa desaforada”


Brasil é uma terra de ricos e pobres – de espírito e causa. Uns tão muitos comem as migalhas que, como favores, são lançadas ao chão ao som de gargalhadas estrondosas - granjeiros que jogam milho para as galinhas que lhes trarão o caviar. Sabe, esta é uma nação de masoquistas. É curioso como nós, sol a sol, cavamos a cova donde jogarão nossos restos quando estivermos imóveis, inúteis, impossibilitados de mover as roldanas desta máquina mortífera que é o mundo. E destes restos, passivos, surgirão os esboços de revoltas, os porquês dos não fazeres, os não-seres, os destinos e desatinos de quem trabalha, trabalha, sem retorno. Assim, as réstias de sonhos se dissipam ao sabor da estagnação, o desânimo abate as expressões vazias e o comodismo, tão devastador quanto a crise, faz com que os joelhos, frágeis, desnudos, se enfraqueçam. No final do dia, cansados das decepções cotidianas, sentam-se para ver o Jornal Nacional entrevistas analfabetos políticos e ventríloquos humanos.


E no fim, com o descaso estampado no rosto, suspiram de desgosto, estufam o peito – de um orgulho de pavões que se gabam das penas que não têm –, e bradam seu ódio ignorante, de quem odeia política, sonega imposto de renda e vota em quem lhe paga cesta básica.

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